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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Caleidoscopia #01


Nego-Ócio

"Ah, é o fim da picada
Depois da estrada começa uma grande avenida
No fim da avenida, existe uma chance, uma sorte, uma nova saída.
Qual é a moral? Qual vai ser o final dessa história?
Eu não tenho nada pra dizer, por isso digo
Eu não tenho muito o que perder, por isso jogo
Eu não tenho hora pra morrer, por isso sonho."

(Coisas da Vida, Rita Lee)
 
  
para E. G. R.


Peguei-me hoje a deliberar sobre coisa alguma. Em verdade não era sobre O Nada que eu deliberava, era sobre algo sem importância. Eram acerca do Ócio, os meus pensamentos digressivos.

De fato em um primeiro momento o Ócio pode parecer não ter importância. Vejamos. Caso você não negue-o você não terá uma remuneração. Ganha-se dinheiro nego-ociando, mas não “ociando”.

Filosofemos, então, um pouco. Se o Ócio não tem importância, dispensar uma parcela – bem grande, diga-se de passagem – do tempo de cada um para negá-lo, voltando a atenção para as formas de se negá-lo, não é atribuir importância a ele?

Ao deliberar sobre a ociosidade não ganhava nada com isso, filosofava apenas – e de forma muito barata. Platão, Aristóteles e Sócrates, contam os livros, também não enriqueceram. A importância da ociosidade, para mim, é mais de ordem filosófica do que econômica.

Às favas com isso! Não tenho pretensões de ser um Platão, um Aristóteles, ou um Sócrates; tampouco um Rockefeller, um Bill Gates, ou um Onassis da vida. Que eles se explodam, não eram felizes como eu sou. Talvez fossem mais, porém, a mim, basta minha felicidade.

Há cinco anos, quando estava no colegial e sonhava com um futuro diferente do que é este presente, tive uma aula de redação sui generis. Saímos todos os 27 – ou 30, não lembro – alunos da gélida e inexpressiva sala de aula, pintada dum azul-clarinho capaz de “despertar” nossa criatividade (segundo a Psicologia, descobri depois), para uma tarde ensolarada e empoeirada à sombra de uma frondosa árvore, lar de um mocho “minervaniano”.

Falou-se, naquele dia, sobre o Ócio. Tivemos quase uma aula prática. Quase uma elegia dos poetas latinos.

O gordo-professor (ou será professor-gordo?), de pé, rodeado por jovens massas encefálicas da geração Y sentadas aos seus pés, iludia sua platéia como se um ilusionista. Amargo foi o gosto que senti quando descobri como se tira o coelho branco da cartola.

Na nossa ociosidade, ele fez-nos acreditar no Amor. Esse Cupido seguidor de modismos modernos; tendencioso a ser Burro e Bêbado, causador da desgraça alheia, bem como da de Inês – de Castro –, Rainha depois de Morta.

Pensamos ser possível viver cada dia como se fosse o último. Era tudo ou nada; ou oito, ou 80; o vai, ou racha. Fui o Nada, o oito e acabei rachando – a cabeça, diga-se por ora.

Descobri depois que toda verdade é questionável porque relativa. O LOuQuInHo do Nietzsche disse isso: sabe-se somente uma parcela da verdade total. Verdadeira, sim, apesar de fração.


Nietzsche

Naquele dia – ou seria naquele tempo? O dos 15 anos – não queríamos um dia de cada vez. Quisemos tudo , e naquele agora.

No passado entendia bem o Ócio. Aplicava quotidianamente a “Filosofia do Ocioso”. Cheguei a pensar que poderia passar o resto dos meus dias – que serão muitos – como poucos: de pernas para o ar.

Era (não SOU?) egocêntrico também. Gostava que o mundo girasse ao meu redor; hoje, se bebo, é para relembrar aquele tempo irresponsável. Bebo para ver o mundo rodando ao meu redor. Sou egocêntrico.

Sonhei com a transgressão da década 00 – a primeira do “Novo Milênio”. Ri da Juventude Transviada de James Dean e de sua ultrapassagem; mas veja, ela deixou-nos a T-shirt.

James Dean.
                                           
Queria a Redenção pela Inércia.

Queria o escapismo do Apanhador no Campo de Centeio. A propósito, escrevi e escrevi e escrevi e me esqueci de dizer que naquele ano colegial, naquele dia, depois da aula, não fui para a casa. Quando o mocho voou eu desviei meu caminho. Fui sentar-me à margem dum lago, para ficar à margem do mundo. Achava que pensaria melhor assim.

Escrevi compulsivamente, num fluxo de consciência que era como a fila indiana de formigas que passava sob meus joelhos. Acho que se escreve por isso: para tentar entender a tortisse do mundo. Tentei entender a incoerência do Trópico.

Ao surgir da primeira estrela do firmamento fui-me embora, não para Pasárgada, porque lá não tenho amigos. A coerência pasargadiana me asfixia. Fui embora para minha rotina Tropical, acreditando que viveria eternamente mergulhado no Ócio, de pernas para cima. Decepsionei-me.

No início desse ano desfiz-me acidentalmente do primeiro texto. Fiz outro hoje, 26 de agosto de 2010, às 21h 47min 28s. Não o publiquei imediatamente porque a conexão com a Internet está falha no Laboratório. Perdi quatro aulas por tudo isso.

Diria o pupilo de Caeiro que valeu a pena (o tempo ocioso?). Concordo.

3 comentários:

  1. Antes de mais nada, obrigado.

    Gostei muito desse texto. Ele me fez pensar na minha vida atual. Acho que você sabe no que.

    Foi uma pena você ter perdido o primeiro texto. Eu te perdôo , mas, talvez, a minha curiosidade não.

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  2. Ahh, apenas hoje cheguei no seu blog, li todos os posts que escreveu e gostei de todos, mas este é realmente especial, não por ser dedicado ao nosso amigo em comum, mas por ser tão bem escrito e me fazer refletir bastante.
    Parabéns, vou ler sempre a partir de agora e ja estou seguindo!

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  3. Olá Pedro. Finalmente consegui ler o seu blog.Adorei.
    Estou aguardando o proximo post.
    Bjs.
    Maria Tereza

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